2 de set. de 2010

Campanhas Educativas para o Trânsito


Irene Rios

 A promoção de campanhas educativas de trânsito foi mencionada pela primeira vez no Código Nacional de Trânsito (1966). 

O Art. 124 estabelecia que “pelo menos uma vez cada ano, o Conselho Nacional de Trânsito teria que realizar uma Campanha Educativa de Trânsito em todo o território nacional, com a cooperação de todos os órgãos competentes do Sistema Nacional de Trânsito”. 

No Código de Trânsito Brasileiro foi dado maior destaque a promoção de campanhas educativas de trânsito. No Art. 75. Consta que “O CONTRAN estabelecerá, anualmente, os temas e os cronogramas das campanhas de âmbito nacional que deverão ser promovidas por todos os órgãos ou entidades do Sistema Nacional de Trânsito, em especial nos períodos referentes às férias escolares, feriados prolongados e à Semana Nacional de Trânsito”. 

Desde 1990, o Denatran vem elegendo temas para a Semana Nacional de Trânsito, comemorada entre os dias 18 e 25 de setembro. Observe a relação de temas a seguir:  

TEMAS DA SEMANA NACIONAL DE TRANSITO 
 
Ano de 2010: “Cinto de Segurança e Cadeirinha”  

Ano de 2009: “Educação no Trânsito”  

Ano de 2008: “A criança no trânsito” 
 
Ano de 2007: “O jovem e o trânsito” 

Ano de 2006: “Você e a moto: uma união feliz”  

Ano de 2005: “No trânsito somos todos pedestres” 
 
Ano de 2004: “O trânsito é feito de pessoas. Valorize a vida”  

Ano de 2003: “Dê preferência à vida”  

Ano de 2002: “Celular. Não fale no trânsito”.  

Ano de 2001: “Álcool X Trânsito” 

Ano de 2000: “Faixa de Pedestre, a vida pede passagem” 
 
Ano de 1999: “Transito: A Segurança Também Depende De Você” 
 
Ano de 1998: “Direito A Vida No Trânsito, Agora É Lei ”  

Ano de 1997: “Transitar Em Harmonia: Lição De Cidadania ”  

Ano de 1995: “Respeite as leis de transito. matar no trânsito é crime doloso contra a vida, sujeitando-se o criminoso o julgamento pelo tribunal do juri, à condenação e à prisão.”  

Ano de 1996: “Respeite A Vida no Trânsito”  

Ano de 1994: “Nossa Bandeira É A Vida / Paz no Trânsito ” 
 
Ano de 1993: “Trânsito: Sem educação não há solução”. 
 
Ano de 1990: “Cumpra-se a lei. Vamos entrar nos eixos! Fiscalizar para preservar”.  

http://www.denatran.gov.br/campanhas/semana/2010/snt2010.htm - (acesso em 17/06/2010)  

O § 1º prevê que “Os órgãos ou entidades do Sistema Nacional de Trânsito deverão promover outras campanhas no âmbito de sua circunscrição e de acordo com as peculiaridades locais”. 

O § 2º estabelece que “As campanhas de que trata este artigo são de caráter permanente, e os serviços de rádio e difusão sonora de sons e imagens explorados pelo poder público são obrigados a difundi-las gratuitamente, com a freqüência recomendada pelos órgãos competentes do Sistema Nacional de Trânsito”. Está previsto que as campanhas devem acontecer com continuidade, baseadas nas necessidades locais. Infelizmente, no Brasil são poucas as campanhas realizadas atendendo a essas recomendações. 

Em 2009, o Contran publicou a resolução 314, que estabelece procedimentos para a execução de campanhas educativas de trânsito. 

Confira a seguir: "Art. 1º Aprovar as orientações para a realização de campanhas educativas de trânsito estabelecidas no Anexo desta Resolução. Parágrafo Único. Para efeitos desta Resolução, entende-se por campanha educativa toda a ação que tem por objetivo informar, mobilizar, prevenir ou alertar a população ou segmento da população para adotar comportamentos que lhe tragam segurança e qualidade de vida no trânsito. 

Art. 2º Os órgãos e entidades do SNT devem assegurar recursos financeiros e nível de profissionalismo adequado para o planejamento, a execução e a avaliação das campanhas de que trata esta Resolução. (...) Além da promoção da segurança no trânsito, as campanhas educativas de trânsito devem provocar comportamentos éticos e de cidadania, voltados ao bem comum.
(...)
Para que as campanhas educativas de trânsito possam, efetivamente, construir conhecimentos e produzir mudança de atitude, é fundamental que os órgãos e entidades do SNT adotem uma metodologia capaz de orientar sua execução. Isto porque não se pode pensar na veiculação de campanhas de forma aleatória, como atividade fortuita ou casual".


Conforme consta na resolução 314, toda campanha educativa de trânsito, independentemente da mídia e dos recursos financeiros envolvidos, deve ser cuidadosamente planejada, de acordo com as seguintes orientações: 

"1. Pesquisa A pesquisa trará à luz indicadores qualitativos e/ou quantitativos sobre a percepção da população em relação ao trânsito: qual a sua opinião, quais as suas maiores preocupações, quais as suas dificuldades relacionadas ao trânsito; deve detectar seu envolvimento em acidentes de trânsito: como, quando, onde, o motivo. A pesquisa deve considerar também as estatísticas de trânsito relacionadas a passageiros, pedestres, condutores, examinando faixa etária, sexo, entre outras questões importantes para determinar temas, objetivos, público-alvo.  

2. Elaboração da campanha A campanha deve ser criada para ir ao encontro das informações coletadas na pesquisa. Nesta etapa será definida a concepção a ser adotada, o tema a ser abordado, as linguagens utilizadas, seleção das mídias, freqüência de veiculação, etc. No momento de elaboração das campanhas educativas de trânsito consideradas nesta Resolução, devem ser considerados os seguintes aspectos:

2.1 A utilização de linguagens acessíveis e de fácil compreensão à população em geral, assim como a fundamentação em preceitos técnico-legais, garantindo a transmissão de informações corretas sobre quaisquer assuntos relacionados ao trânsito.

2.2 O foco no ser humano, visando a construção de uma cultura e de uma ética democráticas no trânsito, fundadas no direito de ir e vir, com o objetivo de assegurar a vida.

2.3 O destaque a ações, preferencialmente propositivas, que ressaltem aspectos positivos, buscando a identificação do público com situações de seu cotidiano no trânsito, de forma a levá-lo à análise e à reflexão de suas atitudes.

2.4 O atendimento aos princípios e valores éticos presentes na PNT.

2.5 O extremo cuidado com abordagens negativas ou que apresentem violência para evitar a anodinia.

2.6 A necessidade da adoção de critérios para selecionar personagens e personalidades a serem usadas nas campanhas, considerando a imagem que têm perante o público, especialmente no que diz respeito à observância dos princípios e valores éticos. É aconselhável a associação das campanhas a personagens e personalidades identificadas com atitudes responsáveis e respeitosas para com a coletividade e as leis em geral. Cuidados devem ser tomados quanto ao histórico de envolvimento das referidas personagens e personalidades em problemas de responsabilidade em acidentes de trânsito ou ocorrências semelhantes.  

3. Pré-teste Antes de ser exposta ao grande público, as peças produzidas para a campanha devem ser submetidas a uma pesquisa junto ao público-alvo, a fim de verificar se, realmente, atendem às expectativas.  

4. Pós-teste Após a veiculação da campanha ao grande público, deve ser realizada avaliação para que seja possível examinar se os objetivos foram alcançados ou não. No caso das campanhas educativas de trânsito, os indicadores a serem usados no pós-teste devem ter foco preferencialmente nos aspectos comportamentais diretos, não tanto nos resultados globais – e.g. em termos de redução de índices de acidentes ou de vítimas – que podem ter influência de outros fatores". 

 http://www.denatran.gov.br/download/Resolucoes/RESOLUCAO_CONTRAN_314_09.pdf (acesso em 08/06/2010) 

Conforme o texto da resolução, “entende-se por campanha educativa toda a ação que tem por objetivo informar, mobilizar, prevenir ou alertar a população ou segmento da população para adotar comportamentos que lhe tragam segurança e qualidade de vida no trânsito”. Temos visto acontecer diversas campanhas educativas de trânsito no Brasil, principalmente na Semana Nacional de Trânsito. 

Será que essas campanhas estão sendo realizadas de maneira correta? Será que estão atingindo o público alvo? Será que estão produzindo resultados positivos?  

Roberta Torres Lima, em sua monografia “Classificação de Campanhas Educativas de Trânsito” (vencedora do IX Prêmio Denatran de Educação no Trânsito, 2009, na categoria Obra Técnica), ressalta que “para sua eficácia, é necessário que a campanha: Chame a atenção; Desperte o interesse; Provoque desejo; Leve à memorização; Desencadeie a ação”. Ela sugere que, ao se construir o projeto da campanha, seja utilizado a seguinte metodologia de classificação: 
 
Foco: Legislação/Infrações; Dados Estatísticos; Mortalidade/Morbidade; Socialização Acessibilidade/Mobilidade Sustentável.  

Estilo: Chocante; Choque Implícito; Poética/Positiva; Cômica; Emotivo; Racional; Mobilizadora; Infantil. 

Público: Motoristas em geral; Pedestres; Ciclistas; Motociclistas/motoboys/mototaxista; Taxistas; Caminhoneiros/motoristas de ônibus; Transporte de escolares; Crianças/jovens/idosos; Passageiros.  

Meio: Televisão; Rádio; Imprensa; Corpo a corpo; Intervenções artísticas; Palestra; Internet; Alternativo. 
 
Material: Panfleto/Folder; Faixas de pano; Cartilha; Vídeo; Música; Banner/Outdoor; Brinde; Camisa; Mascote. 

Frequência: Eventuais; Sazonais/Temáticas; Permanentes. 

Uma campanha educativa de trânsito precisa ser cuidadosamente planejada. Necessita de objetivos bem definidos, por isso, antes da elaboração, deve-se realizar uma pesquisa para depois determinar o foco e o público alvo. Na elaboração é indispensável definir o estilo, o meio, o material e a freqüência. Nesta fase, é importante a elaboração de um projeto, contendo: tema, objetivos, metodologia, cronograma de execução, orçamento e resultados esperados. 

É fundamental a definição da fonte dos recursos humanos e financeiros. Antes da aplicação ao grande público é recomendável fazer um pré-teste para verificar se a campanha está atendendo as expectativas. Após a implementação, é necessário a realização de um pós-teste para avaliar o processo de aplicação, a reação do público e os resultados. Cabe salientar que, em se tratando de educação para o trânsito, temos resultados em breve prazo (mudanças de atitudes) e em longo prazo (diminuição nos índices de violência no trânsito).

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